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--- É uma paranoia.  Você está imaginando coisas.
--- Não estou imaginando nada, doutor. Acontece que toda vez que estou a fim, o passarinho canta.
--- Mas, se o passarinho canta é ótimo.
--- Estou falando do Bem-Te-Vi, doutor. Quando esse passarinho canta, o meu se inibe,  se encolhe, eu me sinto vigiado como nos tempos de coroinha.

--- Esse é o maior problema da humanidade: Quem paga a conta? O freguês saiu de fino sem pagar. Chame o segurança!!!

HISTORINHAS DE BEM-TE-VI.

Os tupis-guaranis chamavam o Bem-Te-Vi de Pitanga.
Para os portugueses que descobriram o Brasil, chamar Bem-Te-Vi de Pitanga era mais uma esquisitice daquela gente de língua tão estranha, gente que nem sabia informar sobre o Caminho das Índias e se soubesse quem é que entenderia?

--- Raios! Como pode ser Pitanga se o próprio passarinho fica por aí a cantar que é Bem-Te-Vi?
--- Ora, pois, se ele canta que é Bem-Te-Vi, Bem-Te-Vi é.
Nas madrugadas de Moema, é o Bem-Te-Vi que canta primeiro, dizem os portugueses que descobriram as padarias.
--- Bem-Te-Vi!
O passarinho mais conhecido do Brasil. Passarinho que vê tudo. Bem-Te-Vi!


HISTORINHA 1: ELA E ELE
ELA escolhia um tênis de alta performance numa loja. Não era para o marido, mas para o seu personal training, que pelo tamanho dos pés deveria ser também superdotado nas partes superiores.
O marido, alto executivo, não percebia nada além de si mesmo. Mas o passarinho, ah, o passarinho:
--- Bem-Te-Vi!!!
E ela, assustada, deixou depressa a loja, sem comprar, sem agradecer, sem se despedir da vendedora, como só as mulheres de altos executivos costumam fazer.
ELE escolhia um sapato com estampas de oncinha em outra loja. Não era para a mulher, mas para a sua secretária, que tinha pezinhos de gueixa e pernas duas vezes mais novas.
A mulher, como toda mulher de alto executivo, não percebia nada além de si mesma. Mas, o passarinho, ah, o passarinho:
--- Bem-Te-Vi!!!
E ele saiu depressa da loja sem comprar, sem agradecer, sem se despedir da vendedora, como só os altos executivos costumam fazer. E esqueceu o carro e fugiu de bicicleta da Bike Sampa.

HISTORINHA 2: COMPRANDO NA MOITA
Dior, Armani, Moschino, Prada e Chanel.
Ela escolhia roupas de grifes internacionais, mas parecia apreensiva, nervosa, afinal estava numa ponta de estoque, numa ruazinha escondida, travessa da Bem-Te-Vi e não queria ser vista por nenhuma amiga. Que vantagens poderia contar depois? E então:
--- Bem-Te-Vi!
Era o passarinho que vê tudo. E a amiga que passava de carro casualmente em frente à loja também a viu e sorriu com ironia e acenou e o passarinho voou.

 

HISTORINHA 3: CONSULTÓRIO DO ANALISTA

--- Minha vida sexual está um lixo, doutor.
--- Quantos anos você tem, meu caro?
--- Cinqüenta e três.
--- Casado?
--- Há sete anos, pela segunda vez.
--- E ela, quantos anos?
--- Trinta.
--- Esse é o primeiro problema.  Qual o segundo?
--- Eu só faço sexo de dia.
--- Meu caro, sexo não tem hora, portanto não vejo problema nenhum.
--- É que não consigo mais.
--- E à noite?
--- Doutor, eu troquei a noite pelo dia faz tempo.
--- Por favor, explique.
--- É que minha mulher, além de ser filha de mãe carola, estudou num colégio de freiras de Moema e o senhor sabe como é colégio de freiras. Ela nunca se deitou antes de rezar em voz alta, ajoelhada à beira da cama. Todas as vezes em que transava depois da reza, eu me sentia muito mal, até que não suportei mais a culpa de ser um demônio invadindo um convento. Troquei a noite pelo dia.
--- E qual o problema de dia?
--- Eu me sinto observado. Uma incômoda sensação de estar sendo observado. Confesso que estou à beira da impotência.
--- É uma paranoia.  Você está imaginando coisas.
--- Não estou imaginando nada, doutor. Acontece que toda vez que estou a fim, o passarinho canta.
--- Mas, se o passarinho canta é ótimo.
--- Estou falando do Bem-Te-Vi, doutor. Quando esse passarinho canta, o meu se inibe,  se encolhe, eu me sinto vigiado como nos tempos de coroinha.
--- Coroinha? Você ajudava na Missa?
--- Sim. E tudo ia bem até que cheguei à adolescência. Ah, então todos os santos e anjos viraram bem-te-vis que me vigiavam e cantavam quando eu caía em tentação, nos mais remotos lugares. Bem-Te-Vi!!! E agora, nos meus cinqüenta anos, os complexos de culpa me infernizam novamente e minha ereção despenca.
--- Vamos à realidade, meu caro. Lembre-se que é só um passarinho cantando. Lembre-se disso e tudo volta ao normal.
--- Não volta, não, doutor. Quando o passarinho canta em cima, o meu não canta embaixo. 

Bem-Te-Vi!

HISTORINHA 4:  O CARA DE PAU
Ele sempre passou muito bem acompanhado pelos bares e cafés de Moema. E sempre foi embora sem pagar a conta.Agora, estava numa mesinha na calçada da Bem-Te-Vi, à sombra das árvores, soberano em sua impunidade, carinhoso com a mulher a seu lado. Não era conhecido ali. Pediu café expresso para dois, caprichado. Café nada tem a ver com pastel assado de espinafre, mas ele também pediu, para dois. E ficaram a contemplar as vitrines em frente, sem pressa de ir embora. Então, ele foi até o balcão, sorriu para a moça que estava no caixa, simulou pagar a conta, deu um tempo, voltou para a mesa e estendeu as mãos carinhosamente. A mulher se ergueu e de mãos dadas saíram, tranquila e amorosamente. Então, o passarinho cantou:
--- Bem-Te-Vi!
Ele parou assustado. O segurança, que há pouco o recebera com um sorriso duas vezes maior que o dele, agora o abordava, com uma cara duas vezes mais fechada:
--- O senhor não pagou a conta.
Adivinhe quem pagou? Ela.

Bem-Te-Vi!


HISTORINHA 5: CARTEIRA DO MARIDO​
Ela jamais havia mexido na carteira do marido em cinquenta anos de casamento.
Mas, a tentação daquela malha de Campos de Jordão em oferta numa loja da Bem-Te-Vi, ah, que tentação.
O marido, como sempre, saíra devagarzinho em direção do Parque Ibirapuera. Ia e vinha, todas as manhãs.
Mas, esquecera a carteira sobre a cama. Estufada de notas de cem novinhas.
As mãos dela tremiam, nervosas, quando a apanhou.
Havia dinheiro para comprar quantas malhas quisesse.
Mas, bastava uma malha só e uma nota só. Ela se benzeu, pediu perdão à Nossa Senhora Aparecida, pediu mais de uma vez, muitas vezes, e começou a puxar lentamente uma nota de cem da carteira.
E então:
--- Bem-Te-Vi! Bem-Te-Vi!
Ela caiu sentada na cama. Pálida.
O marido desistira de ir ao Ibirapuera e imitava o canto do Bem-Te-Vi, a seu lado.
--- Bem-Te-Vi!
Imitava e ria, achara engraçada e inocente o susto de sua mulher ao ser surpreendida.
Ela começou a rir junto com ele e os dois se abraçaram amorosamente.
À tarde, foram comprar a malha.
Bem-Te-Vi!!!

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